quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Um pouco de silêncio


O silêncio nos assusta por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro ângulo de nós mesmos.
Queremos ruído, ruídos. Chegamos em casa e ligamos a televisão antes de largar a bolsa ou pasta. Não é para assistir a um programa: é pela distração. Silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desencontro nosso. Talvez uma realidade distorcida, um futuro amedrontador, ou o medo de ficarmos sós.
Eu simplesmente escrevo tais coisas porque é isso que – bem ou mal – eu sei fazer. Acreditando que amo demais, que sinto demais, que choro demais, que sou perfeccionista demais, teimosa demais, mas que se julga inexplicavelmente feliz. Não acho que a gente deve ser boazinha, gueixa submissa, ou serviçal ressentida.
Ando com a sensação de querer fazer tudo diferente, fazer melhor. E me salva, como me salvam a chuva nas folhas secas, o olhar de quem me ama e de certo modo, todo esse apulso da vida que pede para ser decifrada, e se recolhe pedindo silêncio.

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