Estevão é o tipo de escritor de sucesso que ninguém conhece. Publica um livro por mês e, ainda assim, não freqüenta a lista dos best-sellers. Suas histórias são uma mistura bem dosada de paixões avassaladoras, crimes misteriosos, paisagens exóticas, e a cada nova história um novo nome aparece na capa, todos americanos. “A grande trepada por volta da página 40, o encontro final com o vilão, e o desenlace, a partir da 90.” Seu herói chama-se Conrad, e isso não muda, ele sempre se chama Conrad. Estevão não tem um pé, e mora só em um edifício. Há uma moça que vem para fazer a faxina duas vezes por semana, chama-se Lília, mas essa, sempre acaba em sua cama. Há também Dona Maria, a empregada. “Abaixa o rádio, dona Maria!” Estevão passa o dia batendo na velha máquina, e tentando não prestar atenção ao desfile de desgraças que o rádio da empregada lhe serve toda manhã. Um programa de auditório que parece durar o dia inteiro. Conflitos entre família: pai que matou a filha, filho que é maconheiro, o apresentador ajuda, dá conselhos, e o auditório aplaude. Assim vivia Estevão, até que certo dia um cara bate a sua porta e apresenta-se como inspetor Macieira. Surpreso, por não costumar receber visitas, ele o convida pra entrar. Ele também não tinha um pé, mas havia feito uma prótese, e andava normalmente. Ou quase. Estevão percebeu que ele mancava. Conversa vai, conversa vem, e ele dizia-se ser seu leitor constante e admirador. Estevão começou a testá-lo, pra ver se ele realmente lia seus livros. E não é que o filho-da-puta o lia mesmo? Perguntou-lhe também qual livro ele mais gostava, ele respondeu o último. Disse que era exatamente sobre esse livro que ele queria falar e que havia pego o seu endereço na editora. O inspetor ainda fez-lhe várias perguntas, de onde ele tirava suas idéias, se não eram baseadas em ninguém, e disse que tinha uma coincidência trágica, e falou sobre o assassinato de uma mulher no Jardim Paraíso, do mês passado. Mas ele não sabia de nada, pois não lia jornais. E a coincidência era que com o sangue da mulher morta esfaqueada, o assassino teria escrito coisas na parede em grego, curiosamente, como a história de seu último livro. Mas não passavam de coincidências, estranhas, mas coincidências. Depois de muita conversa, o inspetor ainda lhe pergunta se ele já estava escrevendo outro livro, e ele disse que sim. Que era a continuação do último, o Ritual Macabro. Com o mesmo herói, Conrad e com o mesmo vilão, o grego. Estevão conta-lhe o que já escreveu, até que Macieira despede-se, já estava tarde.
Depois da cena final do seu último livro, Conrad passa alguns messes num hospital. Quando começa o novo livro, ele está pronto pra sair do hospital. Recebe uma visita de uma mulher, linda, linda, linda, chamada Linda. Ela traz um envelope com dinheiro, dez mil dólares e um bilhete. O bilhete é do grego escrito apenas, “não desista”. Quando ele vai perguntar para a mulher o que significa aquilo, descobre que a mulher não está mais ali. Ninguém sabe quem é ela ou de onde ela veio. Ele sai do hospital, e sente uma grande nostalgia do mar. Procura Hennessy, seu melhor amigo, da Interpol. Diz a ele que vai tirar umas férias, que está enjoado de tudo e compra uma passagem para um cruzeiro de luxo. Lá, ganha uma aposta com um jogador de pôquer fanático, Mabrik. Um famoso negociante e vendedor de armas, conhecido entre o mundo da máfia. Mabrik fica lhe devendo um favor. Conrad também encontra Linda novamente. Sobre a brisa do mar, no lado de fora do navio, ouve-se uma voz suave cantar, é ela. Conrad queria saber onde o grego estava dessa vez, e sabia que ela tinha informações. Passa a noite com ela, uma “trepada” de muitas páginas. E descobre que o grego estaria agora com Ann, sua doce Ann. A jovem médica que queria casar com Conrad, mas que ele rejeitou, porque não queria envolvê-la na sua vida perigosa e instável. Conrad consegue que Mabrik traga um helicóptero de Chipre, ao navio. Para ir até Nova York atrás de Ann, já que ele o devia uma. Chegara a Nova York no começo da noite. De londres, telefonou para o escritório da Interpol em Nova York. Ficou sabendo que encontraram Hennessy morto no seu apartamento. Foi degolado e o criminoso depois escrevera uma palavra com seu sangue, na parede. “Anangke”. Necessidade cega. Conrad sabia que era mais uma do grego. Ele mata por necessidade cega. Ele mata porque precisa matar. Conrad alugou um carro no aeroporto de Kennedy e seguiu para casa de Ann, em Long Island. Sem sequer parar de pensar um segundo em Ann, em que ela não estava mais segura a essas horas. Ele estava certo. Mas a vida de Ann foi poupada.
O grego já tinha entrado na casa, e já tinha a faca na mão. Ele amarrara e amordaçara. E arrancara sua roupa. O grego desenhou a palavra “Omphalos” com a ponta da faca na barriga de Ann, de cima para baixo, de modo que o primeiro “o” era um círculo em torno do umbigo. Conrad nunca vira Ann, sua doce Ann, nua, por isso aquele gesto, abrindo o robe para que pudesse examinar a sua ferida quando chegou em sua casa. E ao mesmo tempo a ferida era uma estigma. O Grego vira a nudez de Ann antes dele. Conrad jamais veria o ventre de Ann na sua pureza original. O Grego apenas dissera que aquilo era uma mensagem para Conrad. “Ele saberá onde me encontrar”, dissera o Grego. Conrad pediu desculpas a Ann. Ela era a causa daquela tragédia, daquele horror que acabara de ver. Se tivesse matado o Grego aquilo não teria acontecido (Conrad já teve uma oportunidade mas não o matou). Mas agora perseguiria, e o mataria. “Não vá”, disse Ann, agarrando-se a Conrad. “Fique comigo!” Mas Conrad precisava ir. Aquela seria sua última aventura, ele prometia. Depois ficaria com ela para sempre. “Mas é o que ele quer, insistiu Ann. Ele é um louco, tudo isto para ele é um jogo, uma charada sangrenta feita por uma mente doentia, fique comigo!” O destino do Grego e o dele eram a mesma coisa, a charada era um designo antigo, o jogo era um jogo proposto há tempo, por outra mente obscura. Que jogo? “Só saberemos quando ele terminar”, disse Conrad. Talvez eu ganhe, talvez não. Mas preciso descobrir qual é o jogo. Ann foi para a casa dos pais no interior. Depois de comprar sua passagem, e ajuda-la a embarcar, Conrad foi para Manhattan. Ele mantinha um apartamento em Nova York. Conrad apenas tomou um banho rápido e saiu para as ruas. Só conseguia pensar em Hennessy degolado, e na barriga marcada de Ann e na obsessão do Grego. Passava da meia noite. Conrad vai até um bar perto do Times Square, o umbigo de Nova York. O bar não tinha nada de extraordinário mas servia seu uísque Glenlivet e seu gelo era redondo.Uma velha e um cara se metem em sua conversa com Conrad e o barman. Conrad só fica mais confuso. “Umbigo. Dor. Parto. A marca do parto. Geração. Gerações. Pais e filhos”. Uma discussão, e um enigma talvez sem fim.
“Meu sobrinho ta com remela dura” diz dona Maria ao chegar ao apartamento de Estevão. Ele joga seu café fora. Ao escrever sua aventura com Conrad, Estevão também fala muito de seu pai. De seu pai e de sua biblioteca. Seus dois irmãos, e a vontade que tinha em conhecer o mar quando era pequeno. O inspetor Macieira fez-lhe outra visita. Agora para anunciar a morte de Lília. Estevão tinha dado sua falta no dia seguinte mesmo, mas ficou muito, muito surpreso. Ele fora degolada. Quando Macieira bate na porta do casebre onde Lília morava, ele só ouviu o barulho de alguém se arrastando pelo chão. E outro barulho como de um gargarejo. Depois o barulho de um móvel caindo. Lília estava estendida no chão. Atrás dela, um rastro de sangue. Como um véu de noiva, um lençol de sangue. Ela tinha se arrastado até perto de uma mesa e virado a mesa. Em cima da mesa tinha livros. Livros de Estevão. Mesmo com o pescoço aberto, mesmo esguichando sangue do pescoço, ela teve forças para se arrastar até a mesa, derrubá-la e pegar um dos livros, marcando uma página. Estevão nem sequer sabia a cor dos olhos de Lília. Mal falava com ela. Sabia que ela também limpava a casa do Macieira e só. Macieira alega que esse crime teria acontecido conforme a morte de Ann no seu livro. Mas Estevão conta que decidiu não matá-la no seu livro, como havia dito para ele na sua última visita. Coincidências e mais coincidências. Macieira faz acusações, mas nada faz sentido. Estevão ainda diz que isso era absurdo, só porque Macieira teria lido suas histórias de quinta categoria, que por sinal falam de um crime igualzinho ao do Jardim Paraíso. “O autor inclusive fala na frase escrita em sangue na parede, coisa que ninguém sabia, pois a imprensa não deu, coisa que só a polícia e a faxineira sabiam. Além, claro, do próprio assassino. Macieira visita o autor do livro. Descobre que a faxineira que apagou a frase da parede é, por outra incrível coincidência, faxineira do autor. Macieira vai visitar a faxineira para descobrir qual é seu papel na trama. E então..”
Depois de mais um bom tempo de conversa, Macieira finalmente vai embora. Estevão pensa com satisfação: puxa, ela lia os meus livros. Chegou até desejar que a história do Inspetor fosse verdade só para que aquilo também fosse verdade. Ela o lia. Certamente sabia a cor dos seus olhos. Talvez até o amasse. Lília, Lília. Mas, ao trabalho. Estevão volta para sua máquina de escrever.
Conrad depois de muito pensar, resolve ir atrás de Vishmaru. Seu mestre. Que também poderia estar correndo perigo. Pegou um táxi para o aeroporto novamente, e de lá um avião para Londres. Ao chegar, vai do aeroporto pata estação de trem. Pegou o trem que o deixaria perto da casa de Vishmaru. Chegando lá, nem sinal do grego. Mas Vishmaru não estava, teria ido a um encontro importante na cidade. Diz Kabal, uma mulher que morava junto com ele na mansão, dando-lhe junto um envelope que fora entregue no portão naquela tarde. No papel, uma frase: "Essa noite, aja naturalmente". Depois uma palavra, "Sassur". Depois, a frase: "Às vezes só o que é preciso para desvendar um mistério é olhar para frente." E por último: "Ephifania: a última lição". Novamente o grego com seus jogos."Sassur". Conrad sabia que era o nome mágico das nove horas da noite. No trem de volta para Londres analisando o papel que o grego lhe deixara, começa a se perguntar: - Onde? Quando? Às nove horas, certo. Mas em que circunstância ele deve agir naturalmente? Ele deve fazer o que faz toda vez que chega a Londres, seria isso? O Slings and Arrows, o único pub de Londres com gelo redondo. Sim, era onde ele ia todas as noites. Agir naturalmente, em Londres, só poderia ser lá. Chegou ao seu pequeno apartamento em Londres, tomou um banho e seguiu para o Slings and Arrows, mas nem sinal do grego. Impaciente, sem ao menos ter comido nada ao sair de casa, (estava horas sem comer) começa a olhar em volta, procurar alguma pista, eram cinco pras nove. De repente, Conrad lembrou-se de uma coisa. Bem em frente ao bar, do outro lado da rua, tinha um restaurante grego. Como era o nome do maldito restaurante? Saiu para fora, e ali estava o restaurante. Bem em frente. Seu nome era Omphalos.Conrad entrou no restaurante, a iluminação era azul. O maître aproximou-se e perguntou se ele tinha reserva. Conrad não sabia, disse seu nome e o maître diz: - "Ah sim, Mr. James, às nove horas. Mesa pra dois. Seu amigo está lhe esperando." O grego estendeu-lhe a mão, mas Conrad não apertou. Sentou-se. Não quis comer. Foi uma longa conversa. Os enigmas, as charadas, o porquê de tudo isso. O porquê de matar as pessoas que Conrad mais gostava, tudo. O grego diz que elas precisavam morrer, e que agora era a vez de Conrad. Pediu para ele olhar para a mesa do fundo, e encontra Vishmaru, sorrindo bondosamente, com mais um e Mabrik, o negociante de armas. E Conrad levanta e vai até a mesa deles. E então, Conrad viu pela expressão dos três na mesa que alguma coisa muito feia tinha acontecido às suas costas. Quando se levantou e virou para trás já com a arma que tinha no blazer, viu muitos homens correndo na direção da escada, virando mesas e cadeiras, e viu o que os tinha espantado. O corpo do Grego estava estendido no chão, com uma faca na mão. A faca que ele enfiaria na nuca de Conrad se não tivesse sido interrompido pelo assistente de Mabrik, e que estava em pé ao lado do corpo, segurando uma foice. O corpo do Grego estava sem cabeça. Conrad procurou a cabeça do Grego com o olhar e finalmente localizou em cima de uma mesa, exatamente sobre uma travessa de carne de cordeiro. Macieria ainda fez mais uma visita à Estevão. Dessa vez, anunciando a morte do seu velho jardineiro, seu Joaquim. A editora viria na próxima semana para buscar seu último livro. Estevão enfim conta como perdeu o pé, conta do acidente na casa da praia de seu irmão. Conta da morte do pai, e que ele tinha traído sua mãe. Sem perceber, o que Estevão escrevia em seus livros de quinta categoria, era basicamente toda a sua vida real. Histórias e mais histórias. Seus livros empilhados em seu apartamento e a solidão. Estevão não sabia quando Macieira voltaria novamente, só sabia que havia um assassino solto na cidade. E o que ficava era o medo, medo de pensar que um dia alguém poderia bater a sua porta, e ele fosse o próximo.
Apenas é um resumo do livro O Jardim do Diabo - Luis Fernando Verissimo.
Trabalhinho de literaura, feito por mim. Resolvi postar.
Besitos ;**
terça-feira, 16 de outubro de 2007
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2 comentários:
"MARAAAA"
ADOREI O COMENTS, AJUDO BASTANT NUM TRABALHO MEU TB HUEHEU =p
BJKSS
MIKAAA
desconheço os mistérios da linguagem de blogs, mas cultivo o hábito de ler alguns. concluí a leitura do jardim... e impressionado com a belíssima maneira de descrever os personagens, seus relacionamentos, que os prendem e os libertam, precisava também "postar" um comentário com a recomendação deste livro do veríssimo e de sua obra de uma maneira geral. os desejos expressos, os reprimidos,se enredam mostrando uma vida louca, perturbada,linda, enfim múltipla...
abraço e parabéns pelo blog
sidnei
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